AUMENTO DO USO DE CONTROLE BIOLÓGICO NO BRASIL

LUIS RENATO STRAUSS (
da Folha de S.Paulo)

O agricultor brasileiro está descobrindo como utilizar os recursos disponíveis na natureza para o controle de pragas e de doenças da lavoura. A prática vem diminuindo o uso de agrotóxicos e oferecendo melhores rendimentos.

A técnica consiste em encontrar no próprio ambiente predadores naturais das pragas que atacam a cultura. É o chamado controle biológico, que, apesar de ser utilizado desde 1950 no país, teve sua prática disseminada somente nos últimos 20 anos.

Hoje, por exemplo, na região Sul do Brasil, cerca de 1,2 milhão de hectares de soja -correspondentes a 10% da área total do plantio no país- utiliza um vírus no combate à lagarta-da-soja.

"Basta o agricultor comprar uma vez o produto e não precisará mais se preocupar em gastar dinheiro com inseticidas", afirma Francisco Schmidt, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de Brasília.

Quando termina a safra, o produtor deve guardar no congelador algumas larvas que estavam no campo. Na época do novo plantio, triturando o inseto congelado e borrifando o pó na cultura, os vírus que estavam presentes na larva morta irão procurar novos hospedeiros.

No caso dos produtores de cana-de-açúcar que queiram produzir as vespinhas do gênero Cotesia, que combatem a broca-da-cana, há a necessidade de montar um laboratório, onde elas serão cultivadas.

Segundo Leontino Balbo Junior, diretor da usina São Francisco, em Sertãozinho (SP), as instalações custam de R$ 500 mil a R$ 700 mil para cada 10 mil hectares de cultivo.

"No entanto a cada R$ 1 empregado tem-se um ganho de R$ 3 na produtividade", afirma.

O grupo, que aplica a tecnologia em 20 mil hectares de terra, reduziu a incidência de broca por gomo de 11% para 1,5%, o que diminuiu em 82% as perdas em relação à pulverização com agrotóxicos convencionais.

A prática também é utilizada em 2% do total de 1 milhão de hectares plantados com cana-de-açúcar em Alagoas, Paraíba e Pernambuco. Usineiros e cooperativas que não possuem laboratórios gastam de R$ 40 a R$ 50 por hectare na compra das vespinhas.

Na citricultura, a liberação de vespas Ageniaspis citricola, incentivada pelo Fundecitrus (Fundo de Desenvolvimento da Citricultura), ajudou a diminuir a incidência do cancro cítrico nos pomares paulistas.

Segundo a entidade, há cerca de três anos, pelo menos 230 propriedades no Estado estavam infectadas com a doença. Este ano, o número diminuiu para 43.

Fernanda Vieira, agrônoma da AAO (Associação de Agricultura Orgânica), dá outra alternativa: o manejo integrado.

Ele consiste em alterar o ambiente o mínimo possível, deixando a natureza fazer o papel que seria dos agrotóxicos.

"O meio propicia o surgimento de animais, como pássaros, e de outros agentes, como fungos, que atacam as pragas do campo."

Mas, como os agrotóxicos, utilizar os agentes biológicos requer treinamento e orientação técnica.

Apesar de não haver números exatos sobre a área que utiliza o método no país, novos projetos não param de aparecer: no cerrado, 60 mil hectares das pastagens e 10 mil hectares de seringueiras; em Minas Gerais, 22% do plantio de tomate rasteiro; no Rio Grande do Sul, 400 hectares de maçã.