O Mar da Galiléia, virando um deserto

Seca no lago sobre cujas águas Jesus caminhou, segundo a tradição cristã, pode deixar israelenses e palestinos sem água

A seca ameaça transformar em deserto o Mar da Galiléia - sobre cujas águas, conta o Novo Testamento, Jesus teria caminhado diante do apóstolo Pedro. A falta de água no Lago Tiberíades - como é chamado em Israel - poderá unir os inimigos israelenses e palestinos pela necessidade de um racionamento. Ou pode fazer da água mais um motivo de discórdia.
Nos últimos anos, o nível do lago, principal fonte de água doce de Israel, recuou vários metros. Segundo a empresa que opera o abastecimento para Israel e os territórios palestinos da Cisjordânia e Gaza, as reservas de água já caíram 30%.
"Precisamos agora racionar milhões de litros", disse Uri Saguy, presidente da companhia. Ele defende o aumento da água, para conter um consumo elevado pelo crescimento populacional (Israel tem hoje 6 milhões de habitantes) e pelos fluxos migratórios.
Para atenuar o problema, Israel importará água da Turquia, em 2002, a custos elevados. Outra saída será fazer mais usinas de dessalinização. As duas próximas, porém, só estarão prontas em 2004 e cobrirão apenas 5% das necessidades do país.
Os mais afetados serão os agricultores, que consomem 60% da água e cuja cota cairá drasticamente. Para os palestinos que vivem na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, os efeitos do racionamento poderão ser trágicos, já que Israel consome até 80% dos 600 milhões de metros cúbicos das reservas de água da Cisjordânia.
Um israelense recebe entre duas e cinco vezes mais água que um palestino.
"Enquanto morremos de sede, as vizinhas colônias judaicas nos territórios palestinos estão com as piscinas cheias", garante Adbel Rahman Tamini, presidente de uma associação que estuda o problema.